Dennis Brown

Leo Vidigal

 

Indice

 


1� de fevereiro de 1957 - 1� de julho de 1999


falecimento repentino de Dennis Brown (foto acima) comoveu o mundo do reggae. Quase que intantaneamente dezenas de sites em tributo a uma das vozes mais conhecidas do ritmo de Jah vieram `a tona. Esta página teve a sua primeira versão colocada no ar na época da sua vinda ao Brasil no primeiro semestre, quando ele deu o seu último show, em São Paulo. Infelizmente foi preciso atualizá-la devido `a triste notícia acontecida no primeiro dia de julho.

Dennis Brown era um dos principais expoentes do reggae. A limpidez de sua voz e beleza de suas canções o fizeram tão ou mais popular na Jamaica quanto figuras-chave do ritmo como Bob Marley e Gregory Isaacs. Nascido na capital da ilha caribenha em 1� de fevereiro de 1957, Dennis Emanuel Brown pertencia `a segunda geração do gênero, que começou a cantar quando o ska já não estava mais presente no cenário musical e um novo estilo tomava conta das paradas: o reggae.

Como ele mesmo conta, começou como uma espécie de "menino prodígio", um protegido do produtor Coxsonne Dodd, que naquela época, 69-70, procurava por novas estrelas para tomar o lugar dos Wailers. Ele logo percebeu que aquela voz de cristal precisava ser lapidada e passou a gravar direto com ele, sem muito compromisso. Mesmo assim a carga de trabalho começou a pesar, como ele mesmo conta em um depoimento publicado no livro "Reggae Routes": "[cantar com uma banda] ...era como que um exercício para a minha voz, mas era cansativo fazer tantas coisas. Não tinha muito descanso nos fins-de-semana e às vezes só chegava em casa a tempo do café da manhã. Isso me fazia ficar pálido e cansado, como as roupas que vão desbotando. Veja que ainda estava na escola na época e até ia bem lá, não sei como, pois era muito duro. Você tinha uma turnê pela ilha, tinha shows toda noite e muitas vezes chegava de viagem e ia direto para a escola, extenuado." O pai de Brown, apesar de pertencer ao meio artístico (ou talvez por isso), pois era um dramaturgo conhecido em Kingston, desaprovou o estilo de vida do filho e queria que ele se dedicasse aos estudos, mas o destino do jovem cantor já estava traçado.

Logo ele estaria gravando para outros produtores, como Niney "the Observer" e Joe Gibbs. Foi para este que ele fez algumas de suas canções mais conhecidas, como "Money in my pocket" e "Ain't that loving you", lançadas aqui no Brasil no album, "Words of Wisdom", que ainda pode ser encontrado em sebos. Em 72 ele começou a ser reconhecido, quando ganhou um prêmio de melhor cantor da revista 'Swing' (veja ao lado foto dele, `a esquerda, recebendo o prêmio das mãos de P.J. Patterson, na época ministro da Indústria e Turismo, e que hoje é o Primeiro Ministro da Jamaica. Fonte: Jamaica Gleaner).

Outro trabalho de destaque dessa fase de Dennis Brown é "Joseph's Coat of Many Colours", que tem uma bela versão de "Slave Driver", de Bob Marley, entre outros clássicos do roots reggae. Nos anos 70 Dennis Brown rivalizou com Gregory Isaacs em quantidade de lançamentos, trabalhando com produtores do quilate de Lee Perry (com quem gravou "Wolf & Leopard" no lendário estudio Black Ark) e mais produções com Niney (que foram reunidas recentemente pela gravadora americana Heartbeat em dois CDs chamados "Some like it Hot" e "Open the Gate") e foi certamente o ápice da sua carreira em termos de qualidade musical.

Mas não foi em popularidade, pois na década seguinte é que ele iria finalmente colher o que havia plantado, começando com a sua sensacional participação no Reggae Sunsplash 81, que foi realizado como um tributo a Bob Marley, falecido apenas um mês antes. Dennis Brown cantou "If I had the World" com toda a sua alma e arrebatou novos fãs em todo o mundo através da ampla divulgação do álbum duplo e do vídeo desse show. A partir daí passou a ser um dos artistas mais aclamados em todos os festivais de reggae na Jamaica e pelo mundo afora, sendo coroado como o "Príincipe do reggae". Continuou a gravar, com feras como Sly & Robbie (com quem fez o clássico "Revolution") e consolidou a sua fama como artífice do reggae romântico (apesar da sua produção ter sido sempre variada em temas e ritmos).

Como Gregory Isaacs e outros astros do roots, ele aderiu sem problemas aos novos ritmos do dancehall e produziu alguns dos melhores representantes deste estilo, pelo menos três deles em parceria com seu grande amigo Gregory: "Judge Not", "No Contest" e "Blood Brothers", este lançado no Brasil. Recentemente o príncipe voltou `as raizes e produziu álbuns que retomam o seu antigo estilo, mas se aproveitando das facilidades tecnológicas, como "Cosmic Force" e "Milk and Honey" (tambem lançado por aqui, desta vez pela gravadora Top Tape, que ainda lançou uma coletanea dele na série "Reggae Greats"). Recentemente a gravadora VP R\também lançou a coletânea "Love and Hate"(foto), que cobre boa parte da carreira de Dennis Brown.

Ele veio ao Brasil pela primeira vez em 91, participando na turnê "Reggae Time", que teve lugar no Rio na Praça da Apoteose e também em São Paulo. Sempre sorridente no palco, teve no Rio uma bela apresentação, que só mereceu críticas pelo tempo exíguo, mas seu carisma e presença valeram por tudo. A segunda vez em que ele veio aqui já está marcada na história do reggae de uma forma que nenhum de nós desejaria: sua apresentação em São Paulo, a única da atribulada tentativa de turnê que aconteceu em maio/junho, foi a última de sua longa carreira, de mais de 30 anos. Uma pneumonia que não foi devidamente tratada acabou por tirar a vida do príncipe do reggae no dia 1º de julho, `as 6:50 da manhã, em um hospital de Kingston.

Os jornais jamaicanos noticiaram ao longo da semana que a disputa pelo legado de Dennis Brown pode render uma batalha judicial semelhante `a que ocorreu em torno da herança de Bob Marley. Assim como a maior estrela do reggae, Brown teve filhos com várias mulheres e não deixou um testamento. Produtores e gravadoras já contabilizam os ganhos que o desaparecimento de Brown irá causar em termos de vendagem de seus numerosos discos (em torno de 60, segundo os primeiros levantamentos). É a exploração comercial do show business, da qual o reggae não escapa.

Mas a herança maior de Dennis Brown será sempre a música divina com que ele nos deleitou por todos estes anos. Sua visão sincera e apaixonada de seu trabalho nos foi passada em outra entrevista: "Quando eu escrevo uma música, tento seguir o caminho do José bíblico: comunicação através de uma visão que todos entendam - vibrações verdadeiras. Minha intenção é ser um pastor em meu trabalho, aprendendo, ensinando e cantando. Tenho que me sentir satisfeito quando escrevo algo. Porque apenas sentar e escrever mais uma música, não. Isso é confundir as coisas. Não dá para pegar uma letra de música como se fosse um vira-lata na rua. Isso seria uma coisa comum e eu não quero isso. Eu quero algo novo, algo que as pessoas reconheçam, e também espero conseguir ganhar algo com isso. Não quero apenas cantar e não viver disso. Eu preciso sobreviver. Se eu puder cantar canções que possibilitem que as pessoas continuem me vendo por aí, então elas podem continuar a ter o meu trabalho."

Ao lado, capa do programa do funeral de Dennis Emmanuel Brown.

 

 

topo da página

Copyright (c)  Massive Reggae

Desenvolvido por Leo Vidigal