ee 'Scratch' Perry não compareceu ao festival Dub Mamute, frustrando centenas de admiradores que foram ao Sesc Pompéia, na capital paulista, nesta sexta-feira, 30 de agosto. A confusão começou no meio da semana, quando Perry exigiu que o seu vôo da Suíça, onde mora, para o Brasil, fosse trocado para outro que não tivesse escalas. Tal vôo foi providenciado, mas segundo a organização do evento, Perry alegou que, ao ver os números do bilhete de embarque, os seus "anjos" disseram-lhe que haveria uma "maldição" esperando por ele no Brasil.
No entanto o Massive Reggae apurou com exclusividade, através dos integrantes da banda de apoio de Mad Professor (a super competente Robotics) que na verdade Perry queria ter embarcado para o Brasil nesta quinta. Quando ele foi ao aeroporto checar o seu bilhete viu que o vôo estava marcado para sexta e desistiu. A alta carga de trabalho dos últimos dias pode ser a resposta para o mais novo enigma trazido pelo Upsetter. O grupo fez nos últimos dois meses uma grande turnê pela Europa e Scratch ainda foi até a Jamaica receber um prêmio pelo conjunto de sua obra (Ler biografia de Lee Perry). O mais provável é que Perry quisesse chegar um dia antes de sua primeira apresentação (mesmo que fosse apenas como DJ, como estava anunciado) para poder descansar, afinal esta não deixa de ser uma rotina pesada para alguém de 66 anos.
A história contada por Perry para justificar a sua ausência parece ter mais a ver com sua necessidade de manter a fama de aloprado do que com uma visão negativa do país que o acolheria, e o acolheria certamente com entusiasmo. Os ingressos para as apresentações de sábado e domingo já estavam esgotados há uma semana e gente de várias partes do país (como este escrevinhador de BH), até do longínquo Recife, veio a São Paulo apenas para ver o rei louco do reggae. Mas como disse o seu ex-parceiro Adrian Sherwood, ele não é chamado de "Upsetter" (inconveniente, incômodo) por acaso. No entanto devemos ter consciência de que, sem ele, o reggae teria sido bem diferente, certamente muito menos criativo e marcante para nossas vidas. Mas situações como essa têm se multiplicado no showbusiness brasileiro e pedem reflexão e ação.
Mad Professor, que não estava anunciado entre as atrações de sexta, que ainda contava com os DJ. Gustavo, Pedrinho + MC Funk BUIA e o ótimo DJ de dub Yellow P acompanhado pelo toaster Black Alien, socorreu o público ainda frustrado pelo bolo de Scratch. Ele começou com uma apresentação impecável como DJ, sempre utilizando as bases produzidas por ele mesmo no estúdio Ariwa. Depois passou a comandar e mixar em tempo real a banda Robotics (composta por baixo, bateria e teclado, tocada pelo cantor do grupo), em uma performance arrepiante de dub ao vivo. Mad Professor também inseriu na performance vários dos vocais de Perry que tem guardado em seus arquivos esperando (ou não) para tomarem forma em um álbum. Assim consolou um pouco o público que podia fechar os olhos e imaginar o velhinho pulando no palco do Sesc.
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