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Massive Reggae 5

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Yellowman incendeia a plat�ia em Juiz de Fora, MG,em 95. (foto: Leo Vidigal)

Yellowman faz quest�o de posar com a Massive Reggae, em uma homenagem aos seus f�s brasileiros (foto: Geraldo Carvalho)

O Dj Winston Foster, mais conhecido como Yellowman, � o artista mais pol�mico do reggae. O maior respons�vel pela populariza��o do dancehall, � admirado e odiado pelos que acompanham a cena jamaicana. Mas ningu�m pode deixar de reconhecer o talento desta singular figura para o puro e simples entretenimento.

Yellowman nos anos 1980, auge de sua carreira

��O festival jamaicano Reggae Sunsplash havia sido realizado em 1981 como um tributo a Bob Marley, que havia falecido meses antes de sua realiza��o. O Festival de 82 foi ent�o cercado de grande expectativa. Todos se perguntavam quais seriam as estrelas que iriam levantar o p�blico e levar o reggae adiante. Ap�s a maratona de shows, acontecida no Jarrett Park da cidade de Montego Bay, as manchetes dos jornais anunciavam o que ningu�m esperava: 'YELLOWMAN ROUBA O SHOW'. Era a consagra��o do controvertido Dj, tr�s anos depois de ter come�ado sua carreira vencendo o 3� Concurso de Calouros do Tastee's Bar.

Yellowman em 1996: o albino enfrentou obst�culos quase intranspon�veis ao longo da vida, mas deu a volta por cima e fez escola (foto: Jos� Renato).

��Winston Foster nasceu na capital jamaicana,Kingston, em 15 de janeiro de 1957, de pais desconhecidos. Eles o abandonaram logo que nasceu, provavelmente chocados pela sua condi��o de albino (como o Sivuca), considerados por tradi��o como impuros na Jamaica. Sua inf�ncia e adolesc�ncia foram marcadas pelo preconceito e era na m�sica que ele se amparava. Os �dolos daquela �poca eram Bob Marley, Marvin Gaye, Jackson Five, e os grandes bluesmen dos anos 50, com Fats Domino. N�o tinha uma voz privilegiada como a deles, mas isso n�o importava.

��No come�o da d�cada de 70, Count Matchuki, King St�tt e U Roy come�aram a fazer coment�rios em cima das bases instrumentais dos reggaes de sucesso, criando o estilo Dj que iria influenciar toda a m�sica negra, ao gerar o toasting jamaicano e inspirar o aparecimento do rap. O jovem Winston sentiu que era por a� o caminho e come�ou a batalhar pelo seu espa�o.

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Dj's geralmente come�am nas ruas apresentando os sound-systems (equipes de som itinerantes) e o primeiro a lhe dar essa oportunidade chamava-se Black South International. O futuro 'Mr. Sexy' tinha 18 anos. O in�cio foi duro e muitas vezes ele enfrentou a antipatia das pessoas, que gritavam 'Sai fora, dundus!' (dundus � o nome pejorativo dado aos albinos por l�). Logo ele concluiu que a �nica forma de enfrentar esse tratamento negativo era n�o levar nada disso muito � s�rio, principalmente a si mesmo. Assim criou o personagem que o tornaria famoso: o Homem Amarelo, o Rei Yellowman.

��Depois de vencer o concurso do Tastee's Bar, Yellowman se tomou o DJ principal do sound-system Aces Discoteque, da cidade de Saint Thomas. Suas hilariantes performances come�avam com uma entrada teatral, em que ele trajava um terno amarelo, um chap�u da mesma cor e fazia poses "sexys". Essa postura quebrava qualquer clima hostil e foi logo conquistando o p�blico. Os primeiros discos que fez eram registros dessas apresenta��es, em que ele n�o usava uma banda. Seus improvisos, feitos na l�ngua das ruas, nunca se repetiam, mas isso n�o funcionava bem em uma grava��o. Assim come�ou a sua parceria com a Sagittarius Band, o grupo que o acompanharia na maior parte de seus discos e shows pelo mundo.

��A proje��o alcan�ada no Sunsplash 82 levou o seu nome para al�m das fronteiras jamaicanas e em 84 ele se tornou o primeiro artista da sua gera��o a assinar com uma grande gravadora. Nesse ano viajou para os Estados Unidos para gravar o disco que o tomou conhecido no Brasil: King Yellowman (ver o Pequeno Guia das Bolachas Amarelas). Foi o apogeu de sua popularidade e influ�ncia sobre a cena reggae jamaicana, que muitos acusaram de ter sido perniciosa. As letras divertidas e maliciosas e a sua falta de compromisso com a filosofia rastafari foram encaradas com desconfian�a pelos reggaemen, mas abra�adas com entusiasmo pelo p�blico.

��A Jamaica vivia h� muito tempo num clima pesado, os pistoleiros ligados aos dois partidos pol�ticos da ilha estavam � solta e o novo governo de direita havia proibido o reggae nas r�dios. As pessoas queriam divers�o e era exatamente isso que Yellowman oferecia.

��Certavez Bob Marley lamentou que, numa terra t�o rica musicalmentecomo a Jamaica, estilos como o ska e o mento n�o pudessem convivercom o reggae porque o mercado da ilha era muito pequeno e os artistastinham que tocar o que fazia sucesso. Por isso Yellowman foi acusadoser o carrasco do roots reggae ao ajudar a fazer do dancehallo estilo mais popular. Todos os artistas que surgiram depois oapontaram como um desbravador e ele mesmo se auto-proclamou maisde uma vez o 'Rei do Dancehall'. Mas suas letras de duplo sentidoeram fichinha perto do que Ninja Man e outros fariam depois, comsuas louva��es ao uso das armas autom�ticas. Ele tamb�m n�o aderiutotalmente � nova tecnologia musical, preferindo fazer seus discosquase sempre acompanhado da Sagittarius ou da Roots Radics Band,ao contr�rio da maioria, que utilizava apenas sintetizadores ebaterias eletr�nicas. Al�m disso, o que mais o diferencia dosDj's mais jovens � o agu�ado senso de humor, mas a fama de apelador-moracabou pegando de vez. Isso gerou uma situa��o curiosa: enquanto"bad boys" como Shabba Ranks eram insistentemente promovidos,o Homem Amarelo amargava um longo boicote da imprensa especializada,principalmente nos Estados Unidos. Sua carreira at� foi dada porencerrada quando um c�ncer fez com que fosse retirado parte deseu maxilar, mas sua for�a de vontade o conduziu logo de volta� cena musical.

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Yellowman e Ren� Sim�es, o t�cnico brasileiro que levou a sele��o da Jamaica a sua primeira classifica��o para uma Copa do Mundo (foto: revista Reggae Times)

Hoje os velhos e novos talentos do ska e do roots encontram o seu p�blico em todo o mundo e est�o voltando a gravar discos. Isso ocorre gra�as � expans�o mundial do reggae, a partir da conquista do mercado americano, o maior de todos. Uma das conseq��ncias dessa nova situa��o � o relaxamento da press�o sobre o albino. Seu �ltimo cd, 'Prayer', foi elogiado por retomar os valores culturais que est�o voltando a ter import�ncia na ilha. Assim, depois de tantos anos, ningu�m pode negar que Yellowman se tomou um dos grandes embaixadores do reggae. Certamente o DJ mais viajado da Jamaica, j� levou os seus shows super-profissionais aos cinco cantos do planeta. Esteve no Brasil (1) duas vezes, em 91 e no ano passado. A primeira turn� foi a melhor, ele estava entusiasmado de tocar por aqui e a banda era a Sagittarius, com quem tem um entrosamento imbat�vel. Durante a apresenta��o o conjunto transitava com desenvoltura pelo estilo Dj dos anos 70, pr�ximo ao roots, pelo dancehall e pelos cl�ssicos do rhythm & blues. A energia do amarelo front-man era impressionante e depois de duas horas de show todos na plat�ia queriam mais. O show de 94 foi menos apote�tico, a banda n�o era a mesma, mas ele segurou com p�blico com muita compet�ncia. YeIIowman certamente continuar� ainda por muito tempo sua miss�o de torna a nossa vida um pouco mais alegre. Alheio � toda a pol�mica em torno de suas atitudes, ele continua como um dos artistas mais produtivos da cena.

Fontes deste artigo: notas do �lbum "Live at the Reggae Sunsplash 82", depoimentos de Geraldo Carvalho e de Yellowman.

Leia tamb�m Guia das bolachas amarelas: discografia comentada de Yellowman.

Notas

(1) Yellowman voltou ao Brasil outras vezes depois da publica��o deste artigo. Seus �nicos discos lan�ados por aqui foram King Yellowman (EMI), Prayer (Top Tape), Yellowman live in Paris (BMG) e Freedom of Speech (Top Tape) Clique aqui para voltar ao trecho do texto de onde voc� veio.

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