ALPHA BLONDY
Um Africano de Fé

Texto: Geraldo Carvalho
Fotos: Anselmo Gomes
 

Indice

 

lpha Blondy voltou ao Brasil depois de oito anos. Ninguém acreditava que ele viria para a tournê com três shows em novembro de 2003, pois na última vez que colocaram seu nome no Ruffles Reggae Festival ele não veio e todos ficaram decepcionados, afinal o headline (principal atração) do festival era ele. Alpha me disse que um amigo dele do Rio de Janeiro ligou e disse “Alpha, vi teu nome em um outdoor anunciando tua participação em um festival de reggae chamado Ruffles”. Alpha respondeu “não estou sabendo de nada, vou checar e ligo para você”. Então Alpha ficou sabendo que um cara que havia trabalhado com ele há muito tempo atrás era o responsável pelo negócio, e este cara estava levando vantagem em cima do produtor brasileiro, pois Alpha já não trabalhava mais com aquela pessoa.

 




O primeiro show da tournê nov/2003, aconteceu no Rio de Janeiro no Claro Hall no dia 13/novembro/2003 (quinta-feira) com 2.000 pessoas. Anunciaram o cantor, a banda iniciou sua parte tocando uma intro e Alpha Blondy começou a cantar, com um microfone sem fio atrás do palco, o Salmos 23 em francês. Logo ele veio caminhando lentamente para a frente do palco, cantando com a Bíblia Sagrada na mão direita. Fiquei todo emocionado e realmente senti que estava participando não somente de um trabalho para um show de reggae e sim dando graças ao Senhor Todo Poderoso, JAH RASTAFARI ...



Quando Alpha terminou de cantar o Salmos 23, a banda começou a tocar “Jerusalém” e a platéia foi `a loucura. O show foi maravilhoso e terminou com a música “Brigadier Sabary”, com duração total de duas horas e meia, aproximadamente.
No dia seguinte (sexta-feira) seguimos para São Paulo e Alpha se apresentou no Credicard Hall para uma platéia de 5.500 pessoas (de onde foram tiradas as fotos que ilustram esta matéria). O show foi o mesmo do Rio, muito bom também.


O público lotou as dependências do Credicard Hall em São Paulo


Sábado, 15 de novembro, fomos para Salvador, onde havia uma multidão de 30.000 pessoas esperando por Alpha Blondy na Arena da praia de Ipitanga. O show fazia parte de um festival de reggae chamado “República do Reggae”, com a participação das bandas Diamba, Adão Negro, Tribo de Jah, Edson Gomes e Sine Calmon & Morrão Fumegante. Realmente o melhor ficou para o último show da tournê, os baianos e visitantes que lá estivaram saíram de alma lavada, falei com diversas pessoas, que disseram coisas como: “Nunca vi um show internacional de reggae tão lindo na minha vida, obrigado meu Deus”.

Alpha fez de tudo no palco e até deu uma chance para um artista em começo de carreira se apresentar, que cantou um música chamada “Favela” e levou o público ao delírio. O set list foi o mesmo de todos shows daquele ano. No final da apresentação ele falou: “Deus abençoe o Brasil”. Eu disse a ele para falar estas palavras em português.
Alpha Blondy e banda disseram: “O Brasil é um país maravilhoso, cheio de vibrações positivas e o povo é muito amigável, hospitaleiro e realmente gostam muito de reggae.”

Jah Guidance!!!

Leiam abaixo entrevista de Geraldo Carvalho com Alpha Blondy e uma nota recente sobre ele, que foi publicada na Imprensa Reggae, revisada, com alguns acréscimos biográficos.


Uma parte de uma entrevista que fiz com Alpha:

Geraldo – Alpha, muitas pessoas dizem que você é louco, fale para mim por que eles falam isso?
Alpha Blondy– Toda pessoa que realmente faz o que gosta com toda sua verdade e não mede conseqüências, é tida como louca para uns. Eu falei sobre isso na música “Heal me” do álbum “Dieu”.

G– Tem havido guerras entre civis na Costa do Marfim?
AB – Sim e por incrível que pareça, com apartheid (discriminação racial) entre negros. Negros brigando entre si.

G– Alpha, gostaria que você deixasse uma mensagem para o povo brasileiro.
AB– Faça o bem, respeite o teu próximo e ame a Deus para sempre e sempre.
Paz, Amor e Prosperidade para o Brasil e todos vocês.

Geraldo Carvalho/2004.

Biografia e conflitos na Costa do Marfim

Alpha Blondy, cujo nome verdadeiro é Seydou Kone, completou 50 anos em 2002. Blondy conheceu o reggae em um show de Burning Spear nos Estados Unidos no final dos anos de 1970, convertendo-se `a religião rasta. Quando voltou a sua casa na África e contou para a família sobre suas convicções rastafari, ele foi internado contra a vontade em uma instituição psiquiátrica por dezoito meses. Mas logo que conseguiu sair gravou seu primeiro álbum, "Jah Glory". Depois seguiram obras como "Cocody Rock", "Apartheid is Nazism", "Jerusalem", entre outros. Blondy foi indicado para o Grammy de melhor álbum de reggae de 2002 pelo álbum"Merci", mas não levou o prêmio.

Blondy tem em seu repertório diversas canções contra as guerras tribais, o racismo, a injustiça e a desigualdade. Ele se tornou conhecido por canções pacifistas como "Jerusalem" e por falar em árabe quando está em Israel e em hebraico quando se apresenta no mundo árabe. Blondy viaja sempre com uma cópia da Bíblia e outra do Alcorão. Entre suas músicas consta o reggae "Civil War", cuja letra parece hoje uma previsão precisa sobre a atual crise na
sua terra natal, Costa do Marfim, pequeno país no oeste da África, conhecido pelo bom futebol e, até pouco tempo atrás, pela sua calma situação política, em comparação com seus turbulentos vizinhos, como Nigéria, Libéria e Serra Leoa.

Ele está bastante preocupado com o conflito armado naquele país. Segundo a CNN, o cantor e compositor declarou que: "se não acharmos uma solução rápida agora, será tarde demais. Amanhã não estaremos falando mais de um levante de alguns poucos rebeldes, mas de uma guerra que poderá durar talvez vinte anos ou mais". O país foi palco do que foi chamado de "Revolução do Reggae" em 1999, quando o exército derrubou, com o apoio popular, o governo do partido que dominava a cena política local há 40 anos ao som das músicas de Alpha Blondy e Tiken Jah Fakoly, que eram tocadas a todo volume pelos veículos militares. Mas o golpe que tinha como objetivo acabar com um governo corrupto degenerou em confusão, fazendo com que os conflitos entre as diversas etnias que compõem o país se tornassem explícitos. Assim a panela de pressão acabou estourando em setembro de 2002, causando derramamento de sangue e caos.

Blondy quer ajudar na negociação da paz entre os grupos étnicos, embora ache que "as metralhadoras falam mais alto do que eu neste momento". Ele clamou contra a xenofobia dos habitantes do país, que discriminam os milhares de imigrantes de outras nações africanas que chegaram na Costa do Marfim, atraídos pela estabilidade gozada pelo seu povo até o início da guerra. Para Blondy este foi um dos
estopins do conflito e constitui o que ele chama de "nazismo negro", pois impede que muitas vozes sejam ouvidas, mesmo de grupos que residem há décadas no país. "Isto é tribalismo e não democracia", ele afirma. Ele sugere que forças de paz da Nações Unidas se juntem aos soldados franceses que já se encontram lá, para que haja tempo de negociar o fim das hostilidades e possibilitar a realização de eleições livres.

 

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