Autores: Steve Barrow e Peter Dalton
Editora: Rough Guides LTDA

ste livro, lançado em 1997, foi feito sob medida para agradar o apreciador do reggae. Além de trazer o resultado de uma ampla pesquisa sobre todos os estilos da música popular jamaicana, oferece ao leitor mais de 1000 recomendações de Cd's e vinis, comentando cada uma delas de acordo com a sua importância. Dessa forma é montado um painel que entrelaça os maiores responsáveis pela evolução do reggae através dos tempos: os artistas, cantores, deejays, instrumentistas, produtores, engenheiros de som, operadores de sound-system e um largo etc.
Os autores acabaram por destacar nos textos históricos as contribuições de cantores e produtores, que são os que detém maior visibilidade, mas também resgatam personagens desconhecidos do grande público, como Lynford Anderson e Sylvan Morris (engenheiros de som), King Edwards e Duke Vin (pioneiros dos sound systems) ou Jah Jerry e Johnny 'Dizzy' Moore (respectivamente guitarrista e trumpetista dos Skatalites), entre outros.
Outra boa razão para adquirir o guia é o nome de Steve Barrow na capa, sempre uma garantia de rigor e veracidade das informações. Este jornalista e pesquisador está à frente do prestigiado selo Blood And Fire, que vem reeditando tesouros esquecidos do reggae, muitos deles listados (com todo o merecimento) entre as obras analisadas no livro. Barrow não tem pudor de deixar claras as suas preferências musicais, mas sempre as fundamenta nos textos, sem dar espaço excessivo aos álbuns que ele considera "essenciais", como reza a nomenclatura do livro. Mas quase sempre estes são clássicos indiscutíveis, daqueles que não podem faltar na discoteca de nenhum reggueiro.
O livro segue uma ordem cronológica, identificando cada época com o estilo predominante. Isso faz com que a história de cada personagem do reggae fique um pouco dispersa ao longo do livro, o que torna indispensável a consulta ao "índice de artistas" localizado no final para quem quer acompanhar um artista específico. Essa forma de organizar o livro também pode, em uma leitura apressada, dar a impressão de que os estilos da música jamaicana se seguiram linearmente. No entanto pode-se dizer que todos vem convivendo ao longo do tempo, apenas alguns predominam sobre os outros de acordo com as leis do mercado. Assim, o livro começa tratando da música folclórica jamaicana, ligando-a com o ska, o ritmo que originou o reggae, o rocksteady, até chegar ao moderno dancehall. Este último, que não encontra muito eco entre os reggueiros no Brasil, é tratado sem preconceitos, com o texto mostrando o estilo como firmemente enraizado na tradição jamaicana.
O livro também passa em revista os principais estúdios e produtores, além de possuir capítulos especiais sobre o reggae na Inglaterra, o reggae africano e o reggae norte-americano. É claro que não caberia esperar dos autores a menção a cada país praticante do reggae, o que acabaria excedendo em muito as suas quase 400 páginas, mas ele bem que poderia captar um pouco mais o fenômeno da internacionalização do ritmo. O livro também traz um glossário, uma cronologia da cultura da Jamaica e uma pequena mas representativa bibliografia, cuja maior lacuna foi a falta de qualquer menção aos vídeos lançados sobre o assunto.
"Reggae:The Rough Guides" se apresenta na capa como um guia definitivo (embora na introdução os autores baixem a bola e o chamem de um guia "quase-definitivo"), o que é questionável, não apenas porque a história do reggae ainda não acabou (como muitos acreditam), mas também porque o próprio livro admite cobrir apenas 1% do que foi lançado em 45 anos de trajetória do ritmo. Mas não há dúvida de que este é o guia mais importante editado até hoje, uma obra indispensável para quem pretende se aprofundar no universo do reggae e muito útil para quem quer montar uma coleção representativa e confiável de obras do ritmo de Jah. (LV)
Veja também: Reggae Bloodlines ("Reggae: Música e Cultura da Jamaica" na edição em português)