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The Harder They Come

Leo Vidigal

Ano de Produção : 1972

Direção: Perry Henzell

Com:Jimmy Cliff, Janet Barkley, Carl Bradshaw,
Ras Daniel Hartman

Diretor de Fotografia: Franklin St. Juste

O mais conhecido filme jamaicano nunca foi lançado nos cinemas brasileiros. Sua primeira exibição oficial por aqui foi realizada em 2003 no Festival de Arte Negra, em Belo Horizonte, com a presença do diretor Perry Henzell

  The Harder They Come , dirigido pelo jamaicano Perry Henzell em 1972, é um filme emblemático, tanto do ponto de vista cinematográfico quanto musical. O primeiro filme realizado no Caribe de fala inglesa promoveu o reconhecimento mundial de uma rica cultura e mesmo o auto-reconhecimento de uma sociedade acostumada a se ver pelos olhos dos outros (basta lembrar as dezenas de filmes que tiveram a ilha como cenário, como o clássico "Island in the Sun" e "O Satânico Dr. No", da série 007). Como se não bastasse, preparou o terreno para que a música criada na pequena ilha da Jamaica ganhasse visibilidade e audibilidade mundial, o que aconteceria de vez graças `a ascensão de Bob Marley como o primeiro superstar do Terceiro Mundo.

Estrelado pelo cantor Jimmy Cliff (foto acima), o filme conta a história de Ivanhoe Martin, ou simplesmente Ivan, um garoto do campo que é seduzido pelo brilho da cidade e impedido pela sociedade corrupta de chegar ao sucesso prometido. O incorformismo e a vontade de vencer o fazem enveredar pelo mundo do crime, quando, ironicamente, ele vê a canção que havia gravado ainda no anonimato conquistar o topo das paradas, graças `a popularidade alcançada como fora-da-lei.

O filme apresenta um retrato sem retoques da sociedade jamaicana, mostrada em cores vivas, belos closes e montagem vibrante ao som do reggae. A cena musical da ilha forneceu um contexto dramático de grande potencial para a construção da trama. Naquela época ela estava se consolidando como um dos setores mais importantes da vida social, cultural, política e econômica da Jamaica, mas ainda não tinha a repercussão que tem hoje fora do país. Além da relação conflituosa entre artistas (desprotegidos pela legislação, que não lhes garantia direitos autorais) e produtores (que não se mostravam dispostos a remunerar dignamente os cantores e instrumentistas), havia uma ligação clara do meio com os políticos, que muitas vezes usavam os artistas como cabos eleitorais e suas canções como jingles.

A filmagem demorou quase um ano, por causa das constantes viagens de Jimmy Cliff para a Inglaterra, e seguiu sem o apoio de um roteiro. Perry e o escritor Trevor Rhone trabalhavam com apenas algumas indicações de cena e sugestões de diálogos, que eram adaptados ao modo de falar dos atores, quase sempre não-profissionais "que soubessem mais sobre seus papéis do que eu", segundo declarou Henzell. Para ele funcionava melhor "uma pessoa que representasse a si mesma do que um ator com vícios teatrais. Elegi personagens autênticos e com atores profissionais dificilmente chegaria a este nível de realismo". Jimmy Cliff, por exemplo, já era um cantor consagrado e havia se mudado recentemente para a Inglaterra, mas dez anos antes ele estava na mesma situação de Ivan, chegando na cidade grande e tentando alcançar o reconhecimento. Segundo Henzell o filme seria "uma visão do espírito da cidade pelos olhos de um garoto do campo".

Mas alguns personagens importantes, como o pastor (Basil Keane), o detetive corrupto (Winston Stona), a companheira de Ivan (Janet Barkley), o produtor (Bob Charlton) e o malandro que inicia o personagem principal no submundo (Carl Bradshaw), eram atores ou conhecidos de Henzell que interpretaram seus papéis de acordo com sua experiência nas ruas. Outros, como o rastafari de longas tranças que administrava o plantação de maconha (Ras Daniel Hartman), os demais integrantes do negócio de distribuição da erva e os tipos populares que Ivan encontra pelo filme foram recrutados tomando-se como critério a atividade que exerciam ou o tipo físico.  

A produção foi bancada com o dinheiro levantado entre os amigos de Henzell, trabalhando sempre com um orçamento mínimo. Fez grande sucesso na Jamaica e em alguns países (Brasil e África do Sul foram os únicos lugares onde Perry tentou mas não conseguiu lançar o filme em circuito comercial, segundo ele não por censura política, mas por recusa dos exibidores), mas mesmo assim Perry não conseguiu fazer sua planejada trilogia, da qual The Harder They Come seria a primeira parte. Na verdade este foi o seu primeiro e único filme, pois ele se viu boicotado pela elite jamaicana, impiedosamente retratada na película, e não conseguiu fontes externas de financiamento. Desiludido com o meio cinematográfico, passou a escrever livros e roteiros, embora frequentemente viaje para apresentar o filme em algum outro país, como fez em outubro de 2003 no Festival de Arte Negra de Belo Horizonte.

O filme ainda tem números musicais quase inteiros com Toots and The Maytals cantando "Sweet and Dandy" e o próprio Jimmy Cliff cantando a faixa-título, que depois teria uma versão no Brasil assinada pelos Titãs, "Querem meu Sangue". Prince Buster, um dos pioneiros do ska, faz uma ponta como selector. Enfim, é um item indispensável na videoteca de todo regueiro que se preze.

Perry Henzell e Leo Vidigal em Belo Horizonte - 2003

Designado em português pelo esdrúxulo - e hoje enganador - nome de Balada Sangrenta , foi lançado em DVD no ano passado, sendo ainda encontrável em algumas   bancas e agências de revistas.

Veja também texto sobre o filme Heartland Reggae

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