DreAd TimES


 

Indice

 

 

mUlheres No RegGae

or que o reggae é um gênero dominado pelos homens? As artistas mulheres de importância na história do reggae podem ser contadas nos dedos e mesmo assim a maioria é composta de intérpretes. Poucas compuseram suas próprias canções. E na era do dancehall, o contigente feminino do reggae se tornou ainda menor, ainda que artistas como Lady Saw (foto abaixo) tenham mostrado que elas podem fazer tudo o que os homens fazem.

Alguns atribuem essa situação à manjada teoria da dominação masculina no Terceiro Mundo. E os rastafaris têm sido especialmente criticados por sua visão do papel da mulher. Peter Tosh foi um rasta que defendeu as mulheres com veemência: 'O sistema (ou shitstem, como ele chamava) foi desenhado para manipular as mulheres e fazê-las aparecerem como inferiores, incompetentes e sem inteligência. Não respeito pessoas que não respeitam as mulheres. As mulheres e sua dignidade têm de ser respeitadas'.

Mas na Jamaica qualquer um iria rir de tal conceito do sistema a respeito das mulheres, que as colocasse como cidadãs de segunda classe. Quando se fala em status social as mulheres não são consideradas inferiores aos homens, pelo contrário. Os empresários jamaicanos consideram as mulheres mais inteligentes, honestas, disciplinadas e trabalhadoras que os homens. Recentes pesquisas indicam que as mulheres que cursam ou cursaram faculdade formam um contingente duas vezes superior ao dos homens na ilha que originou o reggae. (foto ao lado: Sister Carol)

Então por que tão poucas mulheres na música? Uma das razões é que os papéis da mulher e do homem são fortemente estabelecidos na Jamaica. E muitas vezes são as próprias mulheres que ajudam a manter estes papéis. Homens que se aventuram nos campos femininos, por exemplo, no trato com filhos, são chamados por elas com apelidos como 'Mama man'. Além disso o reggae sempre foi mais popular entre os homens do que entre as mulheres jamaicanas, que, por alguma razão, parecem preferir a soca (calipso moderno de Trinidad e Tobago) e a soul music.

Outra razão é a tendência entre as jamaicanas de terem filhos muito novas. E a Jamaica tem uma das maiores taxas de mães solteiras em proporção à população em todo mundo. Assim elas têm que se tornar responsáveis por uma criança muito cedo e a música nunca foi uma carreira segura. Coxsone Dodd, talvez o maior produtor da história do reggae, comenta sobre Hortense Ellis (ver capa do álbum abaixo), uma das grandes divas do ritmo de Jah nos anos 60 e 70: 'Ela foi uma das melhores - entre homens e mulheres - que já passaram por aqui. Mas teve filhos demais." Ela tinha provavelmente cada pedaço do talento de seu irmão Alton (uma das grandes vozes da história do reggae), mas nunca conseguiu - como ele - se dedicar totalmente à musica. Depois de criar seus filhos ela reativou sua carreira no começo desta década e ainda está gravando e fazendo shows.

Desmond Young, presidente da Federação de Músicos Jamaicanos, coloca a questão desta forma: 'Quando uma artista consegue dois sucessos nas paradas e você assina um contrato com ela, acontece uma gravidez que invalida o seu contrato. Isso significa que o estúdio tem que refazer todo o trabalho e diminuir o ritmo de shows e gravações. Não estou lutando contra o direito da mulher engravidar, mas elas têm que planejar a sua carreira antes de pensar nisso. Na Jamaica um artista tem que se submeter a uma maratona para conseguir um contrato e divulgar o seu trabalho. Ele precisa ir a cada apresentação de sound system (que acontecem todo dia) e praticamente dormir ao lado da caixa de som. Que mulher conseguiria fazer isso com centenas de homens tentando cantá-la e chamando a atenção dela o tempo todo? Os artistas precisam viajar muito e todo esse trabalho é muito duro. Você já viu um desses estúdios em que esses artistas gravam os seus discos? Se parecem com uma prisão, com 300 homens vagando pelos jardins..."

Lloyd Stanbury, advogado acostumado a trabalhar com artistas, dá a sua visão: "...os produtores preferem lidar com homens porque as mulheres são mais espertas, voce não consegue enganá-las. As mulheres aqui tem mais estudo e esses produtores tem mais dificuldades em lidar com isso, pois estão acostumados a sempre fazer negócios do modo mais informal possivel."

Traduzido do livro "Reggae Routes" de Kevin Chang e Wayne Chen. Fotos: Jammin' Reggae Archives.

Nota: Passando para o Brasil, tambem é raro ver uma artista de reggae feminina que lidere alguma banda por aqui. Mas nesse particular as coisas têm melhorado, com Célia Sampaio, por exemplo, Luciana Simões, ex-vocalista da banda Mystical Roots, o duo de vocalistas da banda curitibana Namastê e outras. No entanto, aqui no Brasil, o reggae é um gênero dominado por homens, ao contrário da MPB, por exemplo.

O site Reggae Woman apresenta biografias e informações sobre performers femininas na Jamaica e em outros países de língua inglesa.

Leia também:

STEEL PULSE
AS RAÍZES DA MÚSICA DUB
LEE SCRATCH PERRY
BUJU BANTON
MULHERES NO REGGAE
BUNNY WAILER
ERIC DONALDSON

 

 

topo da página


Saiba tudo sobre a RAW - Reggae Ambassadors Worldwide#845    
Junte-se à RAW!

Copyright (c)  Massive Reggae