Mauro França
JAH GOLDEN THRONE - PETER BROGGS
GLORY - PRINCE ALLA (Jah Warrior)
O trabalho de Jah Warrior, expoente da nova geração de produtores do chamado roots inglês, se manifesta nestes lançamentos que resgatam dois nomes importantes, embora pouco conhecidos do grande público: Peter Broggs e Prince Alla. Talvez resgate não seja o termo correto no caso de Broggs. Seu álbum "Rastafari Liveth", de 82, foi o primeiro a ser lançado pela gravadora americana Ras Records, uma das mais conceituadas no meio e desde então ele vem mantendo uma carreira ininterrupta, que na verdade havia começado em 75, com o compacto 'Vankout'.
JAH GOLDEN THRONE traz a marca inconfundível de Broggs nas letras conscientes e de temática rasta, inclusive regravando algumas de suas canções antigas, como a faixa-título. O acompanhamento também contribui para o clima roots, com muitos tambores e uma levada hipnótica. A revista americana The Beat qualificou este álbum como o mais "experimental" de Broggs, talvez por causa de faixas como 'Hail Him', em que o instrumental parece caminhar independente dos vocais. Mas é justamente esta liberdade expressiva (presente em algumas faixas, não todas), que traz originalidade a este trabalho e faz juz ao grande Peter Broggs.
Prince Alla contou em uma entrevista ao produtor Jah Warrior que seu
nome artístico surgiu devido a sua admiração pelo pugilista Cassius Clay. Quando este se tornou muçulmano e mudou seu nome para Mohammed Ali, os amigos começaram a chamá-lo de Prince Alla, que também lembra a religião islâmica. Alla esclarece que respeita todas as religiões, mas que é rastafari. Ele começou a cantar há 30 anos e trabalhou com alguns dos maiores produtores do reggae como Tappa Zuckie, Joe Gibbs e Augustus Pablo. Mas como não estava conseguindo viver de música, abandonou a vida artística e chegou sobreviver apenas da pesca. Alla foi resgatado para o reggae pelo pesquisador e produtor Steve Barrow (ver Biblioteca), que compilou e reeditou alguns de seus compactos antigos. De volta à ativa, Alla trabalhou com Jah Shaka e fez este álbum com Jah Warrior. Com praticamente os mesmos instrumentistas do álbumde Broggs, GLORY tem algumas semelhanças com este, trazendo muitos tambores, melódicas e marcações em tom grave no teclado. A principal diferença é que as faixas com vocais são acompanhadas das versões 'dub', o que dá um toque especial a este álbum. Esperamos que Alla continue com esta retomada de sua carreira, produzindo trabalhos com a mesma qualidade de GLORY. Os dois podem ser encomendados no site de Jah Warrior. (LV)
NORRIS COLE - JAMAICA
GEORGE DEKKER - RUDE BOY (Joe Gibbs Music)
Estes são dois outros lançamentos do selo Joe Gibbs Music (leia abaixo a resenha da coletânea PEDRA ROOTS REGGAE). Norris Cole e George Dekker fizeram parte do grupo vocal The Pioneers, que gravaram clássicos como "Long shot kick the bucket". Cole já está no quinto trabalho solo e também desenvolve uma marcante carreira como produtor. Em JAMAICA o cantor desfia 14 faixas que têm como tema principal os prazeres e desventuras do amor, quase todas de autoria dos produtores Joe Gibbs (um dos maiores nomes da história do reggae) e Sydney Crooks.
Dekker também mostra canções românticas em seu repertório, mas varia de temática, como a faixa-título que retoma as canções sobre os 'rude boys' (ver Rocksteady). Outro destaque do álbum é a versão do hino 'Israelites', gravado anteriormente por Desmond Dekker (não sabemos se há parentesco entre eles). Ambos foram lançados apenas no mercado brasileiro e é audível o esforço em agradar o exigente público reggueiro daqui, principalmente o do Maranhão e do Piauí, estados que cultuam um tipo particular de reggae (ler o artigo A dança e a música jamaicana). Talvez por isso as belas vozes de Cole e Dekker sejam emolduradas por um instrumental (tocado pelos mesmos músicos nos dois álbuns) que não se arrisca muito, mas que caiu nas graças de seu público-alvo. O selo de Gibbs tem site (leia mais sobre ele no Net Reggae) e e-mail ([email protected]), para quem não encontrar o CD em sua cidade e para outros contatos. (LV)
HIDDEN TREASURES - VARIOUS ARTISTS (Easy Star)
Lincoln 'Sugar' Minott é uma daquelas figuras abençoadas. Dono de uma bela voz, também se destaca pelo seu trabalho em prol do Reggae, seja no seu sound system, Youth Promotion como no selo Black Roots. Vários nomes importantes da música jamaicana tiveram sua primeira chance pelas mãos de Sugar Minott, que parece Ter um olho clínico para revelar novos talentos. A coletânea SUGAR MINOTT'S HIDDEN TREASURES traz 20 faixas saídas dos arquivos do selo Black Roots, todas produzidas por Minott e gravadas entre 80 e 89. A exceção é uma raridade gravada em 71 pelo primeiro grupo de Minott, os African Brothers. Metade das faixas nunca haviam sido lançadas antes. Por isso, o nome 'tesouros escondidos' é mais que justificado. Nomes como Barrington Levy, Horace Andy, Tony Tuff, Junior Reid, Yami Bolo, além do próprio Sugar Minott, aliados ao excelente time de músicos, garantem a qualidade. Minhas preferidas são as faixas que mostram dois artistas já falecidos, Garnett Silk e Tenor Saw. Mais uma bola dentro do selo Easy Star, que vem se especializando em lança música de excelente qualidade. Informações sobre os lançamentos do selo no site www.easystar.com .
VARIOS ARTISTAS - THIRD WORLD COP (Palm Pictures/Trama)
Poucas trilhas sonoras se sustentam sem a companhia do filme, caso de THIRD WORLD COP, trilha do filme homômino produzido e ambientado na Jamaica. Não se trata de uma colcha de retalhos, como geralmente é o caso de trilhas de filmes, graças a presença dos legendários Sly & Robbie, que tocam e/ou produzem a maioria das faixas. A seleção acaba funcionando como um bom painel da música jamaicana deste final de século, acessível para aqueles que não conhecem o dancehall (e especialmente, para quem diz que não gosta, mesmo sem conhecer). Os destaques ficam por conta dos instrumentais de Sly & Robbie, mais as versões de 'Call the Police', de Ini Kamoze, com os irmãos Marley - Stephen, Damian, Julian..., e a versão de 'Police and thieves', com o consciente Luciano. A minha preferida é 'We run things', com Red Dragon, apresentada em duas versões, todas duas chapantes. O melhor é que o cd foi lançado no Brasil, embora o filme continue inédito nos nossos cinemas. Para maiores detalhes sobre o filme, acesse www.thirdworldcop.com .
PEDRA ROOTS REGGAE - VOL. 1 (Joe Gibbs Reggae Music)
Recentemente eu estava em Brasília e entrei numa loja de discos para matar um tempo. Ao conferir a seção de reggae deparei-me com o cd PEDRA ROOTS REGGAE - VOL. 1, que me chamou a atencão. Pedi para ouvir e já na primeira faixa já havia decidido comprá-lo. Depois reparei nas informações da capa e fiquei surpreso. Trata-se de uma coletânea produzida por Joe Gibbs e cheia de nomes conhecidos no Maranhão, no mais típico reggae ao estilo maranhaense. Ao que parece, depois de visitar este estado nordestino e ver com os próprios olhos a imensa popularidade que o reggae ali desfruta, Gibbs resolveu estabelecer uma ponte entre São Luís e Kingston. Daí nasceu o selo Joe Gibbs Music na capital maranhense . As faixas dessa coletânea foram gravadas em Kingston, mas com vistas ao mercado da jamaica brasileira. E agradam em cheio. Estão presentes nomes como Jimmy London, George Faith, Dennis Walks e Norris Cole, entre outros. O selo tem site (leia mais sobre ele no Net Reggae) e e-mail ([email protected]), para quem não encontrar o CD em sua cidade e outros contatos.
TROJAN INSTRUMENTAL BOX SET
TROJAN RARE GROOVE BOX SET
TROJAN DUB BOX SET
TROJAN DJ BOX SET
A gravadora inglesa Trojan já é velha conhecida dos admiradores do
reggae produzido entre meados dos anos 60 e início dos 70. Com uma história atribulada (ver Net Reggae), vem se especializando na reedição destes clássicos da música jamaicana. No ano passado foram lançadas algumas caixas antológicas, cada uma com 3 Cds, dedicadas aos diferentes estilos da música de Jah. Apesar de cobrirem uma pequena parte do catálogo da Trojan (talvez o mais extenso do meio), servem como uma excelente introdução para os estilos apresentados e também como um importante acréscimo para a discoteca de colecionadores e pesquisadores do ritmo. Além disso elas ainda estão com um preço razoável, equivalente ao valor atual de 2 Cds importados, um argumento importante nesses tempos de real desvalorizado.
Quatro caixas nos chegaram às mãos até agora e nenhuma se mostrou decepcionante. A Caixa 'Instrumentals' traz uma primorosa seleção de alguns dos melhores exemplares do reggae instrumental, desde os tempos do ska e do rocksteady, com músicos do calibre de Don Drummond, Tommy McCook, Roland Alphonso, Baba Brooks, Lyn Taitt, Val Bennet (com, entre outras preciosidades, uma deliciosa versão de 'Take Five' chamada 'The Russians are coming'), até o primeiro período do reggae roots, com os Hippy Boys (liderados pelos irmãos Aston e Carlton Barrett, depois integrantes dos Wailers), Augustus Pablo, Winston Wright e outros. Uma ótima oportunidade para conhecer melhor instrumentistas nunca por demais louvados pelos reggueiros. Afinal, como diz o baterista Winston Grennan, presente nos 3 Cds em diversos grupos desta coletânea, "foram os músicos que fizeram o reggae".
'Rare Groove', com diz o título, traz raridades, compactos que tiveram pequenas tiragens, versões diferentes para os riddims (ver resenha dos lançamentos da Jamdown) de clássicos como 'You don't know', de Bob Andy , 'Breakfast in Bed', de Lorna Bennett ou 'Money in my pocket', de Dennis Brown. O período coberto vai de 68 até 73, portanto, da transição do rocksteady para o reggae e primeiros anos deste. Para muitos, o período de ouro da música jamaicana. A seleção traz nomes como Pioneers, Rolando Alphonso, Owen Gray, Roy Shirley, Delroy Wilson, I Roy, Augustus Pablo, Horace Andy, Jamaicans, Keith Hudson e muito, muito mais.
A caixa 'Dubs' vem como um panorama abrangente da produção de dubs ao longo da década de 70 até o começo dos anos 80. Estão representados praticamente todos os produtores envolvidos com o dub no período, num verdadeiro quem-é-quem na história desse estilo. Confira: King Tubby, Sly & Robbie, Bunny Lee, Lee Perry, Junjo Lawes, Prince Jammy, Scientist, Alvin Ranglin, Niney, Errol Thompson, entre outros. O único senão é que são listadas apenas as bandas que tocam em cada faixa sem citar o produtor, como seria de se esperar.
Já a coletânea dedicada aos Djs faz um apanhado de alguns dos mais importantes toasters da ilha, como U Roy, I Roy, Dennis Alcapone e outros que criaram um novo conceito de canto falado que acabou por desembocar em novos estilos musicais como o ragga e o rap. Mais detalhes sobre esta caixa nas próximas atualizações. Para adquirir esta e outras caixas contate o site da Trojan ou da Music Beats. (MF/LV)
YELLOWMAN / CHARLIE CHAPLIN - THE NEGRIL CHILL CHALENGE
BIG YOUTH - JAMMING IN THE HOUSE OF DREAD (ROIR)
A palavra 'Dancehall' hoje é tomada como o nome de um estilo do reggae que se fundiu ao rap (que por sua vez baseou seu canto falado nos Djs jamaicanos), mas já existia há muito tempo na Jamaica para indicar os salões de dança onde as novas músicas eram apresentadas (ver Dancehall). É nestes salões que os Djs se mostram para um público ávido pelos novos ritmos que irão tomar a ilha. Este lançamento da gravadora americana ROIR capta com perfeição a eletricidade e a espontaneidade de uma apresentação conjunta de Charlie Chaplin, um Dj associado aos temas culturais e religiosos, e Yellowman (ver Yellowman), por muito tempo execrado como o popularizador do estilo dancehall, na praia de Negril, em 1987. O 'confronto amigável' entre estes dois estilos, mostra, já naquela época, que Yellowman não era tão alienado e 'boca-suja' como se pensava, como no dueto em que ele e Chaplin criticam com o então presidente do regime racista da Africa do Sul. As músicas são quase sempre interrompidas no meio para algum comentário ou para uma conversa entre os artistas, no melhor estilo 'reggae de breque', mas infelizmente é difícil acompanhar os diálogos em patois, o dialeto da ilha. No entanto o disco vale como uma experiência cultural e também musical, já que o acompanhamento da Sagittarius Band é de primeira.
Já o outro lançamento da ROIR também é um registro ao vivo, desta vez no Japão, em 1990. O veterano Dj Big Youth, apresenta alguns de seus maiores sucessos com entusiasmo, contagiando a platéia japonesa. Para adquirir contate o site da ROIR.(LV)
THE ULTIMATE DANCEHALL MIX VOL.2
ANTZ NEST
REGGAE EXPLOSION - 2000 MEGAMIX (JAMDOWN)
Para quem quiser ficar atualizado com o que está sendo feito hoje na Jamaica, estes três lançamentos da Jamdown são uma boa pedida. 'THE ULTIMATEDANCEHALL MIX VOL.2' e REGGAE EXPLOSION são dois Cds inteiramente mixado, isto é, sem intervalos entre as músicas, emendando vários blocos, cada um com dois ou três exemplares do mesmo riddim (base instrumental), pilotados por diferentes deejays e cantores. Geralmente este tipo de cd é chamado megamix e de certa forma, tentam capturar a atmosfera de um baile dancehall. No primeiro cd, o destaque vai para o duo vocal Devonte e Tonto Metro, cuja 'Longtime' é a faixa mais acessível aos não familiarizados com este estilo. Também se sobressai a ala feminina, com a dj Lady G atacando com um curioso riddim que se parece com uma levada de capoeira e as 'bad girls' Lady Saw e Tanya Stephens fazendo um dueto radical. Sólidos riddims dominam o segundo cd, que mantém o pique por mais de uma hora. Destaque para Degree e os veteranos Capleton e Tony Rebel. Nos dois cd, a última faixa é um extend mix, com seis e oito minutos de duração, com todos os vocais e riddims presentes nas seleções.
Ultimamente, os riddims jamaicanos estão cada vez mais minimalistas,
ficando nas mãos dos cantores e Deejays a responsabilidade de torná-los interessantes. Isso é comprovado pela outra coletânea da Jamdown, ANTZ NEST, que traz nada menos do que treze faixas do mesmo riddim, o que dá nome ao disco (na Jamaica os riddims também tem nomes, por exemplo, o da conhecida música dos Mighty Diamonds 'Pass the Kutchie' se chama 'Full Up'). Discos inteiros com o mesmo riddim não são novidade na ilha caribenha, mas para quem não está acostumado o resultado pode ser estranho. O interessante é comparar a performance dos intérpretes e ver como eles se saem 'cavalgando' o mesmo riddim. Para adquirir contate o site da Jamdown.
THE SOUND OF CHANNEL ONE: KING TUBBY CONNECTION (Motion Records/Guava Jelly)
U BROWN - HIT SOUNDS FROM CHANNEL ONE 1979-1980 (Tabou1 + One Time)
Costumo comparar os estúdios jamaicanos com potentes usinas de força, já que são fontes inesgotáveis de energia em forma de música. O Channel One é um dos exemplos que me levam a pensar assim. Construído pelos irmãos Ernest e Joseph Hakim a partir de um sound-system de mesmo nome, o estúdio começou a operar em 73 e se transformou num dos mais influentes da Jamaica na década de 70. Entre 75 e 77, nenhum outro podia suplantá-lo em termos de sucesso, graças principalmente ao som revolucionário criado pela banda residente formada a partir do núcleo Sly & Robbie, chamada então de Revolutionaires. Como era praxe vários produtores alugavam tempo no estúdio, de resto um dos poucos existentes (e decentes) na ilha. Realizando lá suas gravações, eles aproveitavam a fama do estúdio e, mais importante, podiam utilizar também o competente pessoal da casa, formado por alguns dos melhores músicos e técnicos da Jamaica.
The Sound Of Channel One: King Tubby Connection apresenta músicas que foram gravadas entre 73 e 81 no Channel One, em sessões financiadas pelo produtor Glen Darby, que não figura entre os maiorais mas mostra seu talento. Vários motivos fazem deste cd duplo um lançamento essencial, começando pelo fato de que todas as faixas são inéditas e vem acompanhadas pelos seus respectivos dubs, mixados por ninguém menos que King Tubby. A banda foi formada basicamente pelos Gladiators, trio mais conhecido por seu excelente trabalho vocal. Os artistas vão desde nomes estabelecidos como Delroy Wilson aos desconhecidos, porém ótimos, como Calvin Stuart, Badoo e Prince Pompidou.
U Brown - Hit Sounds From Channel One 1979-1980 compila singles lançados pelo selo Hit Sounds no período. Tendo estabelecido sua reputação ao longo da década de 70, o dj U Brown fundou seu próprio selo em 79, iniciando uma carreira de produtor. Todas as dezenove faixas foram gravadas por ele no Channel One e traçam um rápido porém consistente instantâneo do Reggae jamaicano numa época de mudanças. Terminava então a era do tradicional roots, que perderia espaço e popularidade para um novo estilo, popularmente conhecido como dancehall. Como manda o figurino nesse tipo de lançamento, as versões 'normais' são acompanhadas ora pela versão dj ora pelo dub. Marcam presença nos vocais nomes como Al Campbell, Sugar Minott, Freddy McKay e Delroy Wilson, além do próprio U Brown. Os onipresentes Sly & Robbie comandam os Revolutionaires, que aqui contaram com Santa Davis, Winston Wright, Ansel Collins e Dean Fraser, entre outros.
MAX ROMEO - OPEN THE IRON GATE 1973-77 (Blood & Fire)
Max Romeo é um nome que dispensa apresentações, sendo já um velho conhecido dos regueiros brasileiros, especialmente os do nordeste, que tiveram oportunidade de vê-lo ao vivo. E não é à toa que ele é uma legenda do Reggae, como mostra mais um bem vindo lançamento do selo Blood & Fire. O prato de resistência é o álbum Revelation Time, obra prima lançada em 75 e que consolidou Max Romeo como um dos principais expoentes do reggae rasta. A presente edição traz pela primeira vez em cd a íntegra do álbum original e adiciona quatro faixas com raridades gravadas antes e depois dele. O que se ouve aqui é um reggae inspirado e consistente, ao mesmo tempo militante e espiritual, de acordo com a visão de mundo do seu autor, cujos pilares são Rastafari, Marcus Garvey e Socialismo. Vale dizer que várias das faixas dessa coletânea foram gravadas no estúdio Black Ark, fruto da estreita associação entre Max Romeo e Lee Perry, que culminaria com o clássico War ina Babylon (ver abaixo em 'Clássicos').
LEE "SCRATCH" PERRY AND THE UPSETTERS - THE UPSETTER SHOP, VOL.2: 1969-1973 (Heartbeat)
Lee Perry (ver biografia na seção Dread Times) é uma força motriz do reggae, um dos produtores que impulsionou o ritmo para novas direções e desafios. Este lançamento, mais uma bem-vinda compilação da gravadora americana Heartbeat (que já teve um representante no Brasil, a gravadora JHO, que infelizmente acabou), mapeia um dos períodos mais importantes da carreira deste multi-artista: o posterior `a fundação da 'família' Upsetter, formada pela banda de estúdio The Upsetters ('Os Inconvenientes', em tradução pra lá de livre), o selo de gravação, o sound-system (leia mais sobre sound-systems no artigo sobre o dancehall), um programa de rádio semanal e a loja de discos Upsetter Shop, que também dá nome a este Cd.
A loja, situada em uma rua movimentada de Kingston era um verdadeiro quartel-general para fans, jornalistas, donos dos clubes noturnos, dos sound-systems e os artistas que se valiam da inventividade de Scratch e da excelência dos instrumentistas que compunham os Upsetters (que tinha uma formação variável, tendo entre seus integrantes mais conhecidos os irmãos Aston e Carlton Barrett, que depois tocariam com Bob Marley). O som vibrava ininterruptamente dos alto-falantes, convidando as pessoas para dentro, onde ouviam os lançamentos do selo enquanto bebericavam em um pequeno balcão e, eventualmente, compravam algo.
Havia ainda um estúdio nos fundos para ensaios e para que Scratch selecionasse os novos grupos que iria produzir, com direito a um canteiro no quintal com ervas prontas para serem colhidas. Os fundos da loja também serviram de residência para Bob Marley, Peter Tosh e Bunny Wailer no verão de 1970, época em que, como 'The Wailers', estavam gravando com Perry as canções que redefiniriam a trajetória musical do grupo para uma produção mais consistente e pronta para a consagração internacional. Depois que os Wailers partiram levando os irmãos Barrett (ver biografia de Perry) Scratch iria produzir mais pérolas com Junior Byles (ver resenha abaixo). Mais tarde Perry fecharia a loja e se concentraria apenas na produção de música, construindo o lendário estúdio Black Ark e iniciando outro ciclo em sua atribulada carreira.
The Upsetter Shop 1969-1973 se esforça por captar o clima daqueles tempos loucos ao documentar o programa que Perry comandava na rádio JBC e ensaios com voz e violão dos Silvertones, situando o ouvinte para que este possa melhor apreciar a sua principal atração: uma excelente seleção de faixas de alguns dos artistas que transitaram entre a loja e o estúdio, como The Bleechers, The Mellotones, The Silvertones, The Inspirations, Al and The Vibrators, Carl Dawkins, David Isaacs, Dave Barker, o impagável Pat Satchmo (que, como indica o seu nome, cantava imitando a voz de Louis Armstrong) e outros mais famosos, como Eric Donaldson (na época cantando com o duo 'West Indians', ver biografia no Dread Times) e o Dj Dillinger, todos no início da vida artística. Os instrumentais dos Upsetters, aqui comandados pelo tecladista Glen Adams, que estão entre os mais pitorescos e inspiradores do reggae, também estão presentes (aliás, poderiam ter selecionado mais alguns). Enfim, é um documento histórico e uma excelente compilação do melhor roots reggae (LV).
MEDITATIONS - GHETTO KNOWLEDGE (Easy Star)
O selo americano Easy Star vem se firmando como uma das melhores fontes de Reggae da atualidade, como já apontava a coletânea de singles anteriormente lançada (comentada aqui). Agora eles trazem de volta os Meditations, excelente trio vocal que marcou época nos anos 70. Sem gravar desde 92, Ansel Cridland, Danny Clarke e Winston Watson - a formação original - mostram que talento não se esquece e mandam ver em 17 músicas que aliam belas harmonias, marca característica do grupo, com um som moderno mas fundado na tradição. Classe A. Confira o site da Easy Star e fique de olho nos seus lançamentos.
Veja também:
Leia sobre os lançamentos do reggae brasileiro na seção Reggae Brasil.
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